EDITORIAL DO CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS
2009/04/22 por osexoeacidade@gmail.com
Eles não sabem nem sonham…
O líder distrital de Coimbra de um dos principais partidos disse-me, há dias, que ainda espera ver-me “pagar, na Terra, pelas maldades” que, do ponto de vista dele, eu terei cometido.
Aludo ao episódio por estar este Jornal a assinalar o nono ano de publicação da sua segunda série.
Para o tal sujeito, como para outros, o caminho austero por que enveredámos – passível de ser calcorreado apenas graças ao inexcedível carácter de Lino Vinhal (director do “Campeão”) – consiste num atalho que terá de levar-me ao beco da maldição.
Ele não quer saber à custa de que é mantida a sobriedade da nossa vida, como não quer saber da dimensão de auto-exigência por que fazemos questão de pautá-la. Ele, como outros, não quer saber disso. Porquê? Presumo que pela simples razão de fazerem questão de desconhecer em que medida os valores e os princípios nos proporcionam um caminho austero e, simultaneamente, gratificante.
Se há coisa que um jornalista deve temer é a sua precipitação no deslumbramento, frequentemente precedida de umas palmadinhas nas costas e da catalogação de agente do «quarto poder».
A recomendável cartilha conjuga a sensatez com a coragem, a irreverência e o inconformismo, aliando a prudência à tentação de ferver em pouca água e fazendo do respeito recíproco a trave-mestre de qualquer relação.
Um jornalista, sujeito ao erro e portador de defeitos (como qualquer criatura), tem de ter presente que os respectivos direitos só se justificam à luz de um conjunto de deveres. De resto, os direitos, em boa medida plasmados no Estatuto do Jornalista – vertido em lei –, apenas fazem sentido perante os deveres. E estes têm de levar em consideração o público (leitores), as fontes (património de um profissional da informação) e as pessoas que são objecto de notícia.
Quando dizia que espera ver-me “a pagar”, presumivelmente com língua de palmo, o tal líder partidário de âmbito distrital limitava-se a debitar considerações ditadas por um impulso, apesar de reconhecer a imparcialidade do “Campeão”.
Ele, como outros, não cuida de saber da pertinência da informação divulgada, nem do respectivo rigor. Basta-lhe ter em conta que ela conflitua com os seus desígnios.
Se há coisa que me desconsola na postura dos inimigos do mensageiro é a incapacidade deles para lhe dar o benefício da dúvida. A tentação de decretar a «matança» do mensageiro nem sequer deixa margem para se sujeitar a narração dos factos a uma análise racional.
È aqui que reside o cerne da questão. Os carrascos do jornalismo consistente condenam os respectivos autores, nem que para isso tenham de fazer tábua rasa do teor das mensagens. Fazem lembrar Neco Pedreira que, na telenovela “O bem amado”, retratava um irresponsável redactor, cujo único compromisso era com a notícia independentemente de ela ser falsa ou verdadeira.
Entendamo-nos: jornalista é um ser capaz de narrar as coisas do mundo e com vontade de o transformar. Nessa medida, o exercício do jornalismo consiste em nivelar (leia-se democratizar) o acesso à informação.
Cabe aos jornalistas, no cumprimento do papel de mensageiros, proporcionar aos seus concidadãos a tal informação que, frequentemente, é privilégio de um grupo. E quão gratificante é o reconhecimento dos leitores e dos anunciantes!
Como assinala o filósofo Fernando Gil, “aquilo que se pretende destituir é a verdade enquanto tal e, por isso, se fala de crise geral do sentido e dos valores”.
Incapazes de meditar sobre a prodigiosa centelha do sonho e indiferentes às advertências do poeta António Gedeão, os apóstolos da mordaça recomendam-nos o cinzentismo, alicerçado no respeitinho. Moléstias próprias de quem deixou de sonhar…
Rui Avelar
Gostar disto:
Gostar A carregar...
Relacionado
Publicado em Não classificado | Deixe um Comentário
Deixe uma Resposta